Sunday 22 March 2020

Rural telehealth against the coronavirus

Photo with the Araucaria trees in Santa Terezinha


Written by Danuta Ramos Duarte
Translated into english, posted and edited by Bianca Cadore Morás
Reviewed by Mayara Floss

(Portuguese below)

Being a doctor in a small town, in the middle of Santa Catarina state in Brazil, with a population of nine thousand people, imposes some challenges. But my small town has a secret name: Santa Terezinha. To get here from the coast we have to cross narrow streets amid Brazil’s Atlantic rainforest, trees called araucarias and small plantings.
The road is rough, full of hills and valleys, with rivers crossing the forest to become waterfalls. Little unpaved roads connect the districts, holding an area of approximately 450 miles.

The people who live here sustain themselves basically with farming, as the plantation of tobacco, corn and soybean are the most frequent crops. They are rural workers, little farmers descended from European migrants who took refuge here during the World War II, finding in Brazil a home beside the nazi horror. They’re polish-descendants (self-titled “polacos”), ucranians and germans who carry strong family traditions: the boundaries between public and private is lost among social relations.

At the chimarrão (mate tea) reunions in the evening, they gossip about the lives of everyone in the community with great detail – a scene capable of provoking an unpleasant sense of invasion of privacy but at the same time a growing feeling of belonging and reception among them.

To care the population, we have three Primary Healthcare Unities with healthcare teams, and other three supporting stations in more distant locations.

A lot of people living in remote areas don’t even have access to phone lines, having trouble coming to our basic care unities because of the miles between us. In realities like this, the telehealth is an essential tool to reach the people that can’t easily come for health facilities.

Fortunately, the internet and the radio are modern resources already consolidated in most homes, are helping us to reduce the distances.

So, as an educational health strategy, we are using Whatsapp and the community radio line to inform people about the coronavirus and the changing on rural basic care units working routine, since we’re attending only priority groups, emergencies and respiratory syndromes. The town provided an official telephone number as an open communication channel with the community. Besides that, the community health agents – who live in the neighborhood – spread the official information in their area of coverage, since they already have Whatsapp groups with the people they visit.

Instead of what we might think, most of Brazilians, as well as the people from Santa Terezinha, live in rural areas and traditionally put great confidence in the word of doctors and public authorities.

We use this confidence to reinforce the need of social isolation to withhold the pandemic of coronavirus which is getting close to us, many times we are going against what the federal government is, irresponsibly, preaching in their recent statements.

Educating the population, promoting autonomy and critical thinking, really saves lives.
________________________________________________________________________________

About the author:

Danuta Ramos Duarte, born in the riverside of Araguaia in a little town of Tocantins state called Araguatins. She studied in a public school, graduated in medicine at a public university, Universidade Federal de Tocantins. Danuta is a person in love with people, nature and also with people’s natures. Granddaughter of a babaçu coconut cracker and an ecologist of Bico do Papagaio, daughter of a teacher, a feminist that dares to love another woman. A resident in Family and Community Medicine for SES-SC, a member of GT Rural from Brazilian Society of Family and Community Medicine (SBMFC).


Original text in Portuguese:

Telemedicina rural contra o coronavírus

Foto com as araucárias de Santa Terezinha


Escrito por Danuta Ramos Duarte
Traduzido para o inglês, editado e postado por Bianca Cadore Morás
Revisado por Mayara Floss

(Em inglês acima)

Ser uma médica num pequeno município, no interior de Santa Catarina, de 9 mil habitantes, impõe seus desafios. Mas minha pequena cidade tem nome sagrado: Santa Terezinha. Para chegar do litoral até aqui passamos por estradas estreitas ladeadas por mata atlântica, araucárias e pequenas plantações.
O terreno é acidentado, cheio de morros e vales, com riachos entremeados na mata, formando cachoeiras. As estradinhas de terra estreitas conectam os distritos, abrangendo uma área de aproximadamente 720 quilômetros quadrados.

O povo que aqui vive se sustenta basicamente da atividade agrícola, sendo a plantação de fumo, milho e soja as culturas mais frequentes. São trabalhadores rurais e pequenos agricultores e agricultoras, descendentes de migrantes da europa, aqui refugiados durante a Segunda Guerra, que encontraram no Brasil um lar ante o horror nazista.
São descentes de poloneses (autodenominados "polacos'), ucranianos e alemães, de tradição fortemente familiar: os limites entre o público e o privado se diluem nas relações sociais.

Nas rodas de chimarrão ao entardecer toda a vida da comunidade é discutida e recontada aos detalhes - cena capaz de provocar uma desagradável sensação de invasão da vida particular, ao passo que faz nascer o sentimento gostoso de acolhimento e pertencimento à comunidade.

Para atender a população, temos 3 postos de saúde com equipe saúde da família, com outros 3 postos de apoio nas áreas mais afastadas da sede.

Muitas pessoas em suas localidades não têm acesso a rede de telefonia e enfrentam dificuldade de acesso aos postos devido às grandes distâncias. Em contextos como este, a telemedicina é ferramenta essencial para alcançarmos as pessoas que não alcançam os serviços de saúde com facilidade.

Felizmente a internet e o rádio são recursos modernos já consolidados em grande parte dos lares dessa gente resistente, nos possibilitando reduzir as distâncias.

Então, como estratégia de educação em saúde, estamos usando o whatsapp e a rádio comunitária para informar as pessoas sobre o coronavírus e as mudanças na rotina das UBS e postos de saúde rurais, já que estamos atendendo apenas grupos prioritários, emergências e síndromes respiratórias. O município forneceu um número de whatsapp oficial como canal aberto de comunicação com a comunidade. Além disso, as agentes comunitárias de saúde, que moram nas localidades, repassam as informações oficiais para as famílias da sua área de abrangência, pois já possuem grupos de whatsapp com as pessoas que atendem.

Ao contrário do que possamos acreditar, a maior parte dos brasileiros, tais como os terezinhenses, vive em zonas rurais e tradicionalmente depositam grande confiança na palavra de médicos e autoridades públicas.

Nos valemos dessa confiança para reforçar a necessidade de isolamento social para impedir que a pandemia chegue até nós, indo, muitas vezes, em contramão do que governo federal tem apregoado irresponsavelmente, nas suas declarações mais recentes.

Educar a população, promovendo autonomia e criticidade, salva vidas.
_____________________________________________________________________

Sobre a autora:

Danuta Ramos Duarte, nascida na beira do Araguaia numa pequena cidade do Tocantins (Araguatins). Estudou em escola pública, formada em medicina pela Universidade Federal do Tocantins, apaixonada por gente e pela natureza e pelas naturezas das gentes. Neta de quebradeira de coco babaçu e do ambientalista do Bico do Papagaio, filha de professora, feminista e que ousa amar uma mulher. Residente em Medicina de Família e Comunidade pela SES-SC, membro do GT rural da SBMFC.