Photo with the Araucaria trees in Santa Terezinha
Written by Danuta Ramos Duarte
Translated into english, posted and edited by Bianca Cadore Morás
Reviewed by Mayara Floss
(Portuguese below)
Being a
doctor in a small town, in the middle of Santa Catarina state in Brazil, with a
population of nine thousand people, imposes some challenges. But my small town
has a secret name: Santa Terezinha. To get here from the coast we have to cross
narrow streets amid Brazil’s Atlantic rainforest, trees called araucarias and
small plantings.
The road is
rough, full of hills and valleys, with rivers crossing the forest to become waterfalls.
Little unpaved roads connect the districts, holding an area of approximately
450 miles.
The people
who live here sustain themselves basically with farming, as the plantation of
tobacco, corn and soybean are the most frequent crops. They are rural workers,
little farmers descended from European migrants who took refuge here during the
World War II, finding in Brazil a home beside the nazi horror. They’re polish-descendants
(self-titled “polacos”), ucranians and germans who carry strong family
traditions: the boundaries between public and private is lost among social
relations.
At the chimarrão
(mate tea) reunions in the evening, they gossip about the lives of everyone in
the community with great detail – a scene capable of provoking an unpleasant
sense of invasion of privacy but at the same time a growing feeling of
belonging and reception among them.
To care the
population, we have three Primary Healthcare Unities with healthcare teams, and
other three supporting stations in more distant locations.
A lot of
people living in remote areas don’t even have access to phone lines, having
trouble coming to our basic care unities because of the miles between us. In
realities like this, the telehealth is an essential tool to reach the people
that can’t easily come for health facilities.
Fortunately,
the internet and the radio are modern resources already consolidated in most
homes, are helping us to reduce the distances.
So, as an
educational health strategy, we are using Whatsapp and the community radio line
to inform people about the coronavirus and the changing on rural basic care
units working routine, since we’re attending only priority groups, emergencies
and respiratory syndromes. The town provided an official telephone number as an
open communication channel with the community. Besides that, the community
health agents – who live in the neighborhood – spread the official information in
their area of coverage, since they already have Whatsapp groups with the people
they visit.
Instead of what
we might think, most of Brazilians, as well as the people from Santa Terezinha,
live in rural areas and traditionally put great confidence in the word of
doctors and public authorities.
We use this
confidence to reinforce the need of social isolation to withhold the pandemic of
coronavirus which is getting close to us, many times we are going against what
the federal government is, irresponsibly, preaching in their recent statements.
Educating
the population, promoting autonomy and critical thinking, really saves lives.
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About the author:
Danuta
Ramos Duarte, born in the riverside of Araguaia in a little town of Tocantins
state called Araguatins. She studied in a public school, graduated in medicine
at a public university, Universidade Federal de Tocantins. Danuta is a person in
love with people, nature and also with people’s natures. Granddaughter of a
babaçu coconut cracker and an ecologist of Bico do Papagaio, daughter of a
teacher, a feminist that dares to love another woman. A resident in Family and
Community Medicine for SES-SC, a member of GT Rural from Brazilian Society of
Family and Community Medicine (SBMFC).
Original text in Portuguese:
Telemedicina rural
contra o coronavírus
Foto com as araucárias de Santa Terezinha
Escrito por Danuta Ramos Duarte
Traduzido para o inglês, editado e postado por Bianca Cadore Morás
Revisado por Mayara Floss
(Em inglês acima)
Ser uma médica num pequeno município, no interior de Santa
Catarina, de 9 mil habitantes, impõe seus desafios. Mas minha pequena cidade
tem nome sagrado: Santa Terezinha. Para chegar do litoral até aqui passamos por
estradas estreitas ladeadas por mata atlântica, araucárias e pequenas
plantações.
O terreno é acidentado, cheio de morros e vales, com riachos
entremeados na mata, formando cachoeiras. As estradinhas de terra estreitas
conectam os distritos, abrangendo uma área de aproximadamente 720 quilômetros
quadrados.
O povo que aqui vive se sustenta basicamente da atividade
agrícola, sendo a plantação de fumo, milho e soja as culturas mais frequentes.
São trabalhadores rurais e pequenos agricultores e agricultoras, descendentes
de migrantes da europa, aqui refugiados durante a Segunda Guerra, que
encontraram no Brasil um lar ante o horror nazista.
São descentes de poloneses (autodenominados "polacos'),
ucranianos e alemães, de tradição fortemente familiar: os limites entre o
público e o privado se diluem nas relações sociais.
Nas rodas de chimarrão ao entardecer toda a vida da
comunidade é discutida e recontada aos detalhes - cena capaz de provocar uma
desagradável sensação de invasão da vida particular, ao passo que faz nascer o
sentimento gostoso de acolhimento e pertencimento à comunidade.
Para atender a população, temos 3 postos de saúde com equipe
saúde da família, com outros 3 postos de apoio nas áreas mais afastadas da
sede.
Muitas pessoas em suas localidades não têm acesso a rede de
telefonia e enfrentam dificuldade de acesso aos postos devido às grandes
distâncias. Em contextos como este, a telemedicina é ferramenta essencial para
alcançarmos as pessoas que não alcançam os serviços de saúde com facilidade.
Felizmente a internet e o rádio são recursos modernos já
consolidados em grande parte dos lares dessa gente resistente, nos
possibilitando reduzir as distâncias.
Então, como estratégia de educação em saúde, estamos usando
o whatsapp e a rádio comunitária para informar as pessoas sobre o coronavírus e
as mudanças na rotina das UBS e postos de saúde rurais, já que estamos
atendendo apenas grupos prioritários, emergências e síndromes respiratórias. O
município forneceu um número de whatsapp oficial como canal aberto de
comunicação com a comunidade. Além disso, as agentes comunitárias de saúde, que
moram nas localidades, repassam as informações oficiais para as famílias da sua
área de abrangência, pois já possuem grupos de whatsapp com as pessoas que
atendem.
Ao contrário do que possamos acreditar, a maior parte dos
brasileiros, tais como os terezinhenses, vive em zonas rurais e
tradicionalmente depositam grande confiança na palavra de médicos e autoridades
públicas.
Nos valemos dessa confiança para reforçar a necessidade de
isolamento social para impedir que a pandemia chegue até nós, indo, muitas
vezes, em contramão do que governo federal tem apregoado irresponsavelmente,
nas suas declarações mais recentes.
Educar a população, promovendo autonomia e criticidade,
salva vidas.
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Sobre a autora:
Danuta Ramos Duarte, nascida na beira do Araguaia numa pequena cidade do Tocantins (Araguatins). Estudou em escola pública, formada em medicina pela Universidade Federal do Tocantins, apaixonada por gente e pela natureza e pelas naturezas das gentes. Neta de quebradeira de coco babaçu e do ambientalista do Bico do Papagaio, filha de professora, feminista e que ousa amar uma mulher. Residente em Medicina de Família e Comunidade pela SES-SC, membro do GT rural da SBMFC.